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10 de setembro de 2013

Hierarquização de lutas e inércia

O que motiva este post é uma pergunta que me faço há muito tempo. Desde muito nova, quando comecei a tomar conhecimento das mazelas do mundo (o que acontece cada vez mais cedo), me perguntava sobre as crianças passando fome na África, e sobre os moradores de rua ao meu redor, também passando fome. A relação macro-micro martelava minha cabeça, e martelava, martelava. Crescida, me engajei em determinadas lutas (a feminista vocês já conhecem; mas não só: também faço parte da luta antiproibicionista e antimanicomial, opressões de minorias, bem como pela democratização da comunicação) que sempre são criticadas. A muleta? "Vocês não tem nada melhor pra lutar não?" E aí os complementos são muitos:
a) tanta corrupção pelo Brasil;
b) toda essa violência, ninguém mais consegue sair de casa;
c) saúde e educação no lixo;
d) tanta gente passando fome;
e) todas as opções acima e muitas outras.

Sem dúvidas, deve-se lutar por tudo isso. Mas será que é mesmo necessário que se faça essa hierarquização? Quer dizer, só posso lutar por saúde e educação quando ninguém mais passar fome? E se isso levar 300 anos? As lutas tem que acontecer de forma concomitante. Vai ter o espaço onde eu me encaixo melhor, onde eu posso fazer mais, agir mais, e este espaço vai ser diferente do teu. E que bom!

Mas quando a luta é polêmica... ela nem entra na ordem de prioridades. Legalização da Maconha? Tanta coisa pra lutar e vocês querem essa baderna? Chega a ser ofensivo. Opa! A legalização da maconha tem influência direta na violência, no tráfico, na morte de negros e favelados. Legalização do aborto?! Milhares de mulheres pobres morrendo, mas é uma questão para depois, de segundo plano.

Fico me perguntando porque a luta feminista - em específico - sempre é deixada em último plano. O chocante é que isso ocorre até mesmo no interior dos movimentos sociais. Quando se fala em paridade de gênero sempre ouvimos que esse não é um ponto tão importante, ou que pode (deve) ser resolvido depois.

Quando nos queixamos das cantadas que ouvimos todos os dias das nossas vidas ouvimos que essa é uma questão sem importância. Sem importância pra quem, carapálida? Pra você, homem, heterossexual que nunca teve que lidar com isso e se ofende com a mera aproximação de um homossexual? Ah, sim. Pra você pode não ter importância mesmo.

O grande perigo da hierarquização de lutas é a espera eterna pela bandeira perfeita... e a prática continuar nula... É ou não é a desculpa perfeita para a inércia?!

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