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21 de agosto de 2013

Ocupe (seu coração)

Ocupa Barcas!
As ocupações de espaços públicos são movimentos muito peculiares, realmente diferentes e que precisam ser tratados com olhares diferentes. Há 1 ano e meio participei do Ocupa Niterói, uma ocupação na praia de Icaraí que durou cerca de um mês, seguida de atos, ocupações mais curtas e intervenções artísticas (cujas fotos ilustrarão este post). Agora, está acontecendo o Ocupa Câmara de Niterói, onde os manifestantes já resistem há 13 dias.

Ocupa Niterói no Ato contra as OSs
O primeiro ponto que queria tocar é a criminalização do movimento. A grande mídia possui um histórico de criminalização dos movimentos sociais, isso é sabido. No caso das ocupações a coisa fica ainda mais grave por uma série de fatores. Dentre eles, o simples fato de ocupar um espaço público. Algo que foge ao cotidiano, e que, definitivamente, incomoda. Além disso, a mídia tem uma tática que sempre é usada na tentativa de deslegitimar o movimento e colocar a população contra: a utilização de drogas e a realização de "festas" e eventos que, em teoria, não deveriam fazer parte daquele espaço.

O que a mídia e os coxinhas precisam entender é que quando se está em uma ocupação as pessoas dormem e acordam naquele lugar, passam o dia inteiro ali, finais de semana, feriados e etc. É óbvio que não tem como você debater, panfletar, fazer atos e assembleias o tempo todo. É necessário que existam espaços mais descontraídos, de lazer, de interação, de troca de ideia sem lista de inscrições. E o melhor (ou não) de tudo é que mesmo nesses espaços o assunto acaba sendo política. A ocupação em si, os próximos passos, as divergências políticas, partidárias ou sabe-se-lá-mais-o-que.

 A questão das drogas é mais polêmica e extensa, porque pensando coletivamente dá "pano pra manga", o que pode ser mais um obstáculo pra um tipo de manifestação que já é complicada por si só. Mas cabe a nós - aqueles que em teoria nadam contra a corrente - nos perguntarmos e fazermos o debate se queremos repetir - no interior de um movimento de contestação e quebra de ordem - os modelos que tanto criticamos. Ou seja... criticamos a política de guerra às drogas e proibimos a utilização delas? Criticamos a interferência do Estado na vida privada dos cidadãos e queremos definir coletivamente questões individuais? Afirmamos que a casa do povo não é ocupada pelo povo e fechamos os portões com as mesmas correntes? Condenamos a atuação da polícia mas agimos de forma semelhante???

Obviamente existe uma questão seríssima que é a segurança. E por isso toda ocupação tem um grupo específico pra deliberar e atuar nesse sentido. Mas ao mesmo tempo é fundamental entender que, no momento que se decide OCUPAR estamos aceitando correr uma série de riscos. Afinal, não estamos seguros em nossa casas, mas dormindo com desconhecidos, e quem somos nós pra decidir quem é ou não perigoso? Quem pode ou não ser infiltrado? Quem provavelmente vai  furtar, depredar, arranjar confusão? Quem pode ou não ultrapassar o portão e se juntar aos ocupantes? Vamos usar os mesmos critérios que condenamos sob a desculpa da segurança?! Realmente, não é fácil... mas ninguém disse que seria.

Ocupa Niterói no ato Niterói que Paz

 Ocupação é contradição. É convivência. Enfrentar o desconhecido e todas as consequências disso, as ruins e as boas. O desgaste chega rápido. Fica cada vez mais difícil ir pra casa, e quando estamos em casa, nossa mente está na ocupação. E muitas vezes quando estamos na ocupação não vemos a hora de estar em casa, tomar um banho e deitar em uma cama. Mas não desistimos... passamos a nos preocupar com cada indivíduo lá presente, porque estamos recriando um modelo de sociedade, mostrando e vendo se é ou não possível viver de forma harmoniosa nos moldes que acreditamos ser os melhores. E por isso a ocupação é um movimento incrível de luta. Porque tentamos colocar em prática nossas utopias, nossos ideais no micro, e com isso entendemos as limitações e dificuldades pro macro também. Ocupação é conhecimento, aprendizagem.

Ocupa Niterói na praia de Icaraí. Novembro de 2011

Porque pode até ser que nada seja conquistado com esse tipo de movimento. Mas uma coisa é fato: cada um dos ocupantes ganha e ganha muito. Ganha bagagem cultural, ganha pensamento crítico, ganha novos pontos de vista, ganha manias, gírias, sorrisos, abraços, piadas internas, sonhos, ideais e, principalmente, companheiros. Amigos pra vida inteira.





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