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14 de janeiro de 2013

Aldeia Maracanã: Não passarão!



 Neste fim de semana, o clima foi de tensão na Aldeia Maracanã, onde fica o “ex-museu do índio”, no Rio de Janeiro. Apesar de ser um “ex-museu”, é necessário frisar que ainda existem tribos morando no local. Cerca de 100 índios que fazem seu artesanato e buscam formas de sobreviver.

Tive a oportunidade de estar numa manifestação na Aldeia, em Novembro. O local não tem energia elétrica, nem água. Os índios estão alojados em suas ocas, na parte de trás do terreno, tentando resistir à desocupação do local. No interior do prédio, fotos e pinturas marcam as paredes descascadas com um só apelo: deixem-nos sobreviver. Deixem nossa cultura sobreviver.

O que pude sentir durante a manifestação foi duas coisas: um paradoxo entre a vontade de lutar, a força para lutar, e o medo. O grande medo dos índios não era da polícia, ou do governador, mas de sua imagem. Os índios estão cientes que precisam do apoio da população para que não tenham seus direitos cerceados mais uma vez. Durante toda a passeata, a preocupação deles era que não houvesse nada, nenhuma confusão, nenhum conflito com os policiais, para não dar razão á mídia para falar mal do movimento. Quando os manifestantes iam pra rua, parte dos índios fazia coro aos policiais e pedia para que os manifestantes voltassem para as calçadas. Eles não querem ser mal vistos, não querem ser vistos como um atraso, algo que vá prejudicar a cidade. Eles querem nosso apoio, e o direito de permanecer em um local que tem tanta história, tanta memória, tanta cultura.

O que me parece mais absurdo é a razão para que a Aldeia Maracanã seja demolida. Demolida me parece um termo pequeno perto da verdade. Prefiro substituir por destruída. Ela é um patrimônio histórico da cultura indígena, que há mais de 500 anos vem sendo devastada por aqueles que acham que uma cultura sobrepõe a outra, que a cultura branca é sinônimo de avanço, enquanto a indígena é sinônimo de atraso.  Essa visão, presente em boa parte das pessoas ainda nos dias de hoje, é o etnocentrismo retrógrado que faz com que, ano após ano, sejam ensinadas nas escolas o “Descobrimento do Brasil”, como se as terras brasileiras estivessem desocupadas até então.


A coisa já começou errada. Sérgio Cabral, quando anunciou a demolição, disse que tinha sido uma exigência da FIFA, o que foi absolutamente negado pela própria instituição. O governador disse que “(a demolição), é necessária para o projeto de modernização do complexo do Maracanã, sendo parte importante na questão da mobilidade”.
Demolir a Aldeia para construir um estacionamento (e um museu do futebol) é pegar toda a cultura indígena existente neste lugar, pisar e jogar no lixo. É reduzir ainda mais a presença desta no Brasil, e, principalmente, no Rio de Janeiro. E tudo isso por causa da copa do mundo.

A copa do mundo e as olimpíadas são mega eventos que estão sendo muito aguardados pelos brasileiros. Os políticos veem a oportunidade de fazer alianças, roubar ainda mais e ter seus nomes promovidos, afinal, é claro que tudo vai “dar certo”. Os empreiteiros estão muito felizes, afinal, todas as obras serão superfaturadas, mas ficarão lindas, e o brasileiro vai ficar agradecido. O povo está muito contente, afinal, vai poder acompanhar “de pertinho” todos esses eventos que ele, até então, só havia visto pela televisão.

Não preciso nem falar que a maior parte dos brasileiros vai continuar assistindo apenas pela televisão, já que os ingressos vão ser caríssimos. E que, passados os dois eventos, as obras vão começar a “apresentar problemas” (como a vila olímpica) e o dinheiro gasto irá efetivamente para o lixo. Não preciso nem falar que a população brasileira é a única que fica feliz, pois esquece que tanto dinheiro poderia ser investido em áreas mais importantes, como saúde, educação, e a própria cultura.

            Faltando pouco para a chegada da Copa, já com o mascote escolhido, os absurdos começam a aparecer. Estamos passando, nesse momento, por um processo claro e forte de higienização social. As UPPs, o combate ao crack feito da forma que está sendo, as favelas sendo incendiadas em SP; a demolição do patrimônio dos indígenas, entre eles a Aldeia Maracanã... Essa higienização social é, simplesmente, para inglês ver. Aliás, para turista ver.

            É assegurar que os turistas que estão vindo para a copa, e que vão gastar rios de dinheiro nos hotéis, nas praias, nos ingressos, nos bares e restaurantes, não tenham contato com os “crackudos”, com os favelados, com os "índios retrógrados". Que eles não corram risco de assalto; que eles tirem da mentalidade dos estrangeiros que o Brasil é uma terra ocupada por índios e mulatas que sambam; que eles tenham aonde estacionar seus carros bem ao lado do grandiosíssimo estádio Maracanã.  

             Ao invés de nossas autoridades se preocuparem com nosso povo, preocupam-se com os estrangeiros.

Hoje, há uma expectativa de demolição da Aldeia Maracanã, com consequente expulsão dos índios que lá vivem. A tropa de choque chegou ao local no sábado e ficou por cerca de 12h. "Quem mandou a tropa o fez antes de obter autorização jurídica. Será que a polícia invadiria o local, mas não o fez por conta da presença das câmeras e autoridades?", foi o que questionou Marcelo Freixo, coberto de razão.

Felizmente, existem muitas pessoas mobilizadas. Nas redes sociais, o compartilhamento e apoio aos indígenas vêm sendo grande, como ficou provado com os guarani- kaiowá. Precisamos fazer com que essa resistência seja cada vez maior. Quanto mais a população se colocar na linha de frente e lutar pelos índios, menos as autoridades vão poder passar por cima destes. De 100 índios da Aldeia Maracanã, precisamos nos tornar 100 mil. Não podemos deixar que os índios aqui pertinho, na Aldeia Maracanã, tenham sua terra desapropriada. Assim como não podemos deixar que Belo Monte seja construída, que os Kaiowá continuem morrendo.



Pouco entendo das questões jurídicas, mas entendo das questões humanas, e o que está sendo feito com os índios no nosso país é, no mínimo, desumano.

2 comentários:

  1. Gabi, a situação dos índios aqui é triste mesmo. Mas será que esse apoio via - redes sociais é válido? Fico me perguntando isso.....
    O que nós podemos efetivamente fazer pra ajudar a causa??! Desejo vibrações positivas pros índios da Aldeia e que nada aconteça com eles.

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    1. Oi,
      li recentemente uma matéria da Eliane Brum (sou fã!!) justamente sobre essa questão do apoio via rede sociais (caso guarani kaiowá). Vou passar o link aqui, caso você tenha interesse em ler: http://revistaepoca.globo.com/Sociedade/eliane-brum/noticia/2012/11/sobrenome-guarani-kaiowa.html

      Apesar de não ser suficiente, acho que é sim uma forma de protesto, o chamado "ativismo de sofá". A questão é quando esse ativismo não sai do sofá mesmo existindo possibilidades para que isso aconteça. Por exemplo, estar acontecendo uma manifestação aqui do lado, na Aldeia Maracanã, e a pessoa em casa sem fazer nada, mas com o apoio no facebook. É uma questão complicada. Eu diria sem pestanejar que a manifestação na rua surte mais efeito do que na internet, mas sinceramente, não sei mais. A mídia dá tanto valor pras redes sociais, as próprias empresas e o próprio governo, que as vezes o ativismo de sofá tem efeitos gigantescos. Mas sinceramente não tenho muita certeza de nada. Na dúvida, façamos os dois! heheh.

      Ps: Nossas vibrações positivas deram certo, o MPF impediu a demolição ontem. :)

      Bjs

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