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23 de outubro de 2012

Eu não gosto de ser cantada!!!!!!


Fiu-fiu. Gostosa. Ô lá em casa.

Elogios? Assédio?

Sempre que começo a debater essa questão com homens* e eles se revoltam e afirmam que as cantadas que ouvimos na rua são elogios, e que deveríamos ficar felizes.  Eu diria que gostaria de saber como esses mesmos homens se sentirão quando suas filhas forem assediadas nas ruas. Mas é mentira, é claro que eu não gostaria. Uma das minhas lutas é justamente para que isso acabe.
*que fique claro que não são todos.

                Desde muito novas somos acostumadas a “receber elogios” no espaço público. São as cantadas de pedreiros, caminhoneiros, moradores de rua, estudantes, homens de terno e gravata, idosos. Elogios que vão desde um assobio até casos extremos, como falar o que tem vontade de fazer com o corpo da mulher, usando termos horrorosos que nos agridem de uma maneira que talvez os homens não consigam imaginar. Conheço histórias macabras, dentre elas um carro que passou e arremessou uma camisinha cheia de esperma no rosto de uma mulher que atravessava a rua. Já passei por situações aterrorizantes, desde menina, até os dias de hoje.   

                Cotidianamente nós, mulheres, somos invadidas. Nós andamos aterrorizadas. No ônibus, se um homem senta ao nosso lado, sentimos necessidade de nos proteger. Encolhemo-nos no acento. Na rua, se estamos andando sozinha, de noite, e vemos um grupo de homens, atravessamos para a outra calçada. Ao entrarmos no taxi cujo motorista é homem, sabemos que existe risco de sermos sequestradas/estupradas/violentadas. Sentimos medo á todo momento. Mesmo sem perceber, estamos o tempo todo nos prevenindo de abusos. Abusos que ainda assim acontecem.

                O grande problema das cantadas nas ruas é que o objetivo não é o flerte, a conquista, a paquera. Ele reveste-se assim. O objetivo do homem ao cantar uma mulher é mostrar que ele é “macho”, é mostrar sua virilidade, seu poder. É, por mais que doa para os homens admitir, amedrontá-la. É mostrar que ele pode falar o que bem entender, que nada vai acontecer, porque ela é uma indefesa mulher.

Lembro uma vez, há muitos anos atrás, eu deveria ter uns 15 anos... E um homem realmente bonito fez “fiu-fiu” ao passar por mim. Eu gostei. Ele era bonito, tinha me sentido atraída por ele. E aí me perguntei: O que ele esperava que eu fizesse? Fosse falar com ele?! A ingênua aqui estava realmente considerando a possibilidade de que ele queria me paquerar, me conhecer, talvez ficar comigo. Mas é óbvio que não era. Nenhuma história de amor nasce de cantadas de rua porque nenhuma história de amor nasce de abusos. (Ok, talvez algumas já tenham nascido, mas são exceções).

Quando admitimos que receber cantadas nas ruas é normal e que as mulheres devem, no mínimo, aceitar (porque já ouvi que elas tem que ficar gratas, também), admitimos que é normal a mulher ser assediada nos transportes públicos, ou quando está bêbada, ou porque se veste ou comporta de tal maneira, ou porque está em determinado local tarde da noite.  Todas essas questões só se perpetuam porque são consideradas normais. Porque não percebem o quão grave é uma mulher ter que lidar com situações de risco todos os dias, nas ruas, nos transportes, no trabalho e muitas vezes até mesmo dentro de casa.

Enquanto não percebermos que o machismo está impregnado nas mais diversas situações consideradas “normais” não conseguiremos nos libertar. Enquanto piadinhas como “mulher feia estuprada deveria agradecer” continuarem sendo risíveis, abusos sexuais continuarão sendo normais. Enquanto enxergarmos normalidades em barbaridades, a sociedade patriarcal continuará nos fazendo submissas. Enquanto formos submissas à essa sociedade, continuaremos a andar com medo todos os dias, por todos os lugares.

E não, isso não é exagero. Eu não gosto de ser cantada!

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